Daniel Oliveira publicou no seu Facebook a sua crónica onde não poupa o Chega. O cronista do Expresso diz que André Ventura percebeu que neste tempo de redes sociais, o discurso de ódio estava a dar e aproveitou um nicho de mercado por explorar. O comentador do “Eixo do Mal”, na SIC Notícias, diz que apesar do Chega se dizer contra o Sistema, é um atalho da elite económica para impor o que já não conseguia em democracia, para convencer a classe média de que o seu problema são os mais pobres e os mais pobres de que o seu problema são os imigrantes, os refugiados, os judeus, os ciganos, os beneficiários do RSI, ou o alvo que estiver mais à mão na altura.
No Chega, à procura de um lugar ao sol
Chegaram dois deputados e um leve cheirinho de poder para o Chega dos Açores se partir a meio. O líder local, Carlos Furtado, ficou como deputado independente e vai ser expulso. Diz que tem estado sob muita pressão, o que é provável numa agremiação que nos seus congressos nos mostra como está mais próxima de uma caixa de comentários de Facebook do que de um partido político. Vem do PSD, onde nunca passou de vereador da Câmara da Lagoa. A sua principal causa política foi alcançada: ser deputado. Este é partido que enche as ruas com cartazes sobre tachos, mas ainda só tem um deputado e já negoceia em público que ministérios quer para si. A retórica radical de Ventura é para entreter o pagode. Ele não tem nada contra os ciganos ou refugiados. Como jurista, nunca foi securitário. Pelo contrário, as suas posições públicas eram mais próximas das minhas do que das que defende no Chega. Percebeu que, neste tempo de redes sociais, o discurso de ódio estava a dar e aproveitou um nicho de mercado por explorar. Alguém assim pode atrair um ou outro fanático, que quer aproveitar a onda para recrutar acólitos e ganhar influência política. Pode apanhar um ou outro ingénuo. Mas uma parte dos que têm algum poder no partido está ali como podia estar no PS ou no PSD. Perceberam que num partido pequeno em crescimento rápido têm maior probabilidade de dar uma trinca no poder. O Chega apresenta-se como um partido contra o sistema. A extrema-direita nunca foi contra o sistema. A não ser, claro, que o sistema seja o democrático. Sempre foi um atalho que a elite económica encontrou para impor o que já não conseguia em democracia. De Mussolini a Pinochet, passando por Salazar, Franco ou, mais recentemente, Trump e Bolsonaro, sempre teve apoio e financiamento de parte do poder económico. Para pôr o povo na linha e convencer a classe média de que o seu problema são os mais pobres e os mais pobres de que o seu problema são os imigrantes, os refugiados, os judeus, os ciganos, os beneficiários do RSI de Rabo de Peixe, o alvo que estiver mais à mão na altura. Para que culpem os de baixo em vez de olharem para cima. Nesta fase, o Chega é o partido de muitos que queriam um lugar no sistema e ainda não o conseguiram. Mas ainda andam às migalhas e pelas migalhas se desentendem.
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