Cheganos Oficiais, Henrique Freire

Ex-vereador do Chega no Seixal publica Nota de Imprensa “O Chega consegue representar o que o sistema tem de pior”

Henrique Viçoso Freire, vereador da Câmara Municipal do Seixal eleito pelo Chega, partilhou na sua página a Nota de Imprensa, assinada pelo outros 4 autarcas do Seixal também eleitos pelo partido de André Ventura: “O Partido CHEGA que se diz contra o sistema, consegue representar o que o dito sistema tem de pior”.

Nota de Imprensa
«OS (ESTES) MEMBROS ELEITOS DO PARTIDO CHEGA (NÃO) SÃO… MEROS PEÕES»
A presente nota de imprensa não era para acontecer, muito menos antes da tomada de posse dos novos deputados à Assembleia da República, mas o comunicado da Direcção do Partido CHEGA a isso nos obriga.
Até neste ponto, o Partido CHEGA que se diz contra o sistema, consegue representar o que o dito sistema tem de pior. Ora para tácticas velhas, velhos remédios, que é como quem diz, responder na mesma moeda, e só esta razão permite que o façamos deste modo e não como era suposto, após a tomada de posse através de uma comunicação com a direcção do partido, sem qualquer alarido público.
Importa começar por referir que, ao contrário do divulgado pela direcção, o Vereador eleito pelo Partido CHEGA para a Câmara Municipal do Seixal (bem como o seu congénere em Sesimbra), se afastaram do partido (e não o contrário) após as primeiras votações (e essencialmente por causa das mesmas) nos órgãos autárquicos.
De facto, quando nos tornámos militantes e, posteriormente, membros activos do Partido CHEGA, fizemo-lo por, além do mais, acreditarmos que perfilhávamos princípios, causas e objectivos comuns. Julgávamos integrar um partido democrático, que era contra o sistema, no sentido de fazer política a pensar nos cidadãos, no que é mais importante para o País e não para o partido – infelizmente o tempo veio-nos mostrar o quão errados estávamos.
A preparação do programa eleitoral do partido nas eleições autárquicas, alertou-nos para algo que se veio a confirmar já em sede de campanha pela mão do próprio presidente do partido aquando da sua deslocação ao Bairro da Jamaica, ignorando a informação que lhe foi preparada, optou por se focar em soundbites populistas, levando-o a ter que ser corrigido pelo candidato a Vereador por mais que uma vez. Para além de desnecessário, revelou (e confirmou-nos) uma tremenda impreparação para os temas locais e nacionais confirmando uma tremenda impreparação para os temas locais, e até posteriormente, noutras ocasiões, para os nacionais – o que não seria previsível poder sequer vir a acontecer num partido que pratica, desenvolve e acalenta no seu seio a excelência e a competência dos seus quadros… Um partido que se dizia ser uma alternativa democrática válida no panorama político nacional falhou redondamente.
Os candidatos aos órgãos autárquicos, aqui signatários, fizeram uma campanha pela positiva, sem ataques pessoais, limitando-se a debater ideias e quando necessário foi, apontaram o que estava mal e precisava ser mudado. Felizmente o esforço e o empenho de todos foi reconhecido e valorizado pelos eleitores, tendo o núcleo do Seixal obtido dos melhores resultados do partido a nível nacional.
A pressão interna sofrida (e a ameaça de processos disciplinares) na sequência dos supostos erros de viabilização das mesas de assembleia de freguesia de Amora e Corroios, e, posteriormente, a viabilização do Orçamento camarário com a abstenção do Vereador eleito Henrique Freire – após ordens directas do presidente do Partido para que votasse contra –, vieram agravar o desconforto dos ora signatários relativamente à sua manutenção na estrutura do partido e à sua própria militância.
Foram dadas instruções pelo presidente do Partido CHEGA, no sentido de uma votação uniforme a nível nacional nos diversos órgãos autárquicos pelo voto “Contra”, sem que esta orientação estivesse respaldada no interesse local das populações mas apenas em razões de estratégia política nacional. O que até poderá, eventualmente, ser defensável numa lógica de política nacional, contudo, não deixa de evidenciar o seguinte: uma tremenda indisponibilidade para equacionar o impacto negativo nas dinâmicas locais.
Não sendo um orçamento óptimo, a verdade é que incorporou várias das propostas previstas no programa eleitoral do CHEGA-Seixal, e relativamente às quais os signatários, primeiro enquanto candidatos e depois na qualidade de eleitos, assumiram o compromisso perante os seus eleitores, para além do prejuízo que um chumbo orçamental iria provocar nas populações, com especial incidência nas Juntas de Freguesia e na impossibilidade de se contratualizarem os contratos programa, sem falar nas consequências negativas para os trabalhadores das autarquias.
Curiosamente, a atitude do partido e da sua direcção foi diametralmente diferente relativamente ao membro da Assembleia Municipal de Viana do Castelo, que votando a favor (pasmem-se!), do Orçamento Socialista, viu a sua conduta “recompensada” com a posição de cabeça-de-lista pelo círculo de Viana do Castelo à Assembleia da República nas eleições Legislativas de Janeiro último.
Quem se abstém no Orçamento da CDU, ainda que sendo leal com o eleitorado que o elegeu é ostracizado, por outro lado, quem aprova o Orçamento socialista é elevado aos altares! No mínimo, estranho, ou não tão estranho se tivermos em consideração o pacto silencioso existente entre o CHEGA e o PS, como se nos veio a revelar.
A dado momento deparámo-nos com o facto de estarmos a receber indicações de voto, consoante a articulação feita com o PS, através do “eixo do mal” Samuel Cruz (PS) – Bruno Nunes (CHEGA), o que para quem apregoa aos quatros ventos, querer combater o sistema representado no seu expoente máximo, Secretário-Geral do PS e Primeiro Ministro, António Costa (nas próprias palavras do presidente do Partido), deixa muito a desejar. Ou seja, como diria um lobista: business as usual! Não importam os princípios e valores, não relevam as causas, muito menos os compromissos com os eleitores, apenas e só o esplendor do que pior existe na política, caciquismo e velhas táctica de poder.
Não esquecendo obviamente, os tristes acontecimentos que rodearam as tentativas de negociação de palco e lugares para os eleitos autárquicos do PS – na Junta de Freguesia de Corroios, Amora, na Assembleia Municipal do Seixal ou na Conselho Municipal de Educação –, com o beneplácito e incentivo da direcção do Partido CHEGA e do actual deputado municipal da AM do Seixal Nuno Capucha (só esperamos que as suas intervenções em Assembleia comecem a ser visualizadas pelo povo, ainda que susceptíveis de gerar embaraço alheio).
Os signatários Henrique Rodrigues e Soraia Rosário, ainda actuando como membros eleitos pelo partido CHEGA nessa mesma sessão de assembleia municipal do Seixal, não puderam senão, obedecendo às instruções do líder de bancada e da direcção do partido (não se tomando em linha de conta a sua consciência e livre decisão) enfileirar e votar PS com a anuência da direcção do Partido CHEGA! Facto abstruso e inclassificável, segundo os próprios parâmetros do partido que já nos acostumou a alfinetar a direita dita “fofinha” mas agindo de igual forma senão pior.
A um determinado discurso público que o partido CHEGA transmite, não corresponde actuação em conformidade, e este episódio é um expressivo exemplo de condutas contrárias ao que se propala, negociadas no escuro dos gabinetes, que é como quem diz, públicas virtudes, vícios privados, que têm feito do PS, como que a mão por detrás do arbusto no CHEGA. Hipocrisia e cinismo político ao mais alto nível.
O presidente e a direcção a que preside, em momento algum pretenderam esconder, ou até compreender, que os cargos autárquicos são dos eleitos e não propriedade do partido. De resto, sinalizam como que um contrato entre aqueles e os seus eleitores, e nunca por nunca, comportará um exercício de representação cega da estrutura do partido, sobretudo para um força política que se diz fora do sistema e diferente das outras forças partidárias (bastava a direcção e o seu presidente terem lido os artigos 22.º e 23.º da Lei dos Partidos Políticos, aprovada pela Lei Orgânica n.º 2/2003, de 22 de agosto).
Para quem se arroga a ambição de querer fundar uma nova República, tememos que nada tenha de original e se aproxime bem mais dos sórdidos aspectos de uma outra que existia à cerca de cinquenta anos atrás.
Basta de enganos e de falsas camaradagens! Fizemos esta caminhada no Seixal quase sem apoios logísticos ou financeiros. Mas nada mais se podia esperar de uma Distrital que é dirigida por um indivíduo que é completamente impreparado em termos políticos, sociais e culturais, sendo que a única característica que o define e o segura ao lugar é o facto de ser extremamente competente na disciplina partidária, ou seja: demonstra uma fidelidade cega, para não dizer absoluta, ao chefe, assim como uma bacoca subserviência que até embaraça.
A campanha eleitoral para as legislativas foi feita já com o afastamento natural e de sua iniciativa, dos ora signatários. Foi penoso percebermos que o programa eleitoral do partido continha menos densidade e substância que o programa eleitoral que quatro meses antes havíamos elaborado para as eleições autárquicas.
A linha do partido ficou clara: apostar cada vez mais em chavões populistas, aproveitar a falta de esclarecimento da população e capitalizar a insatisfação. Afinal, combater o sistema tinha-se tornado num aproveitar dos buracos do dito sistema para potenciar a revolta e a insatisfação, bradando as bandeiras da corrupção, da subsidiodependência e pouco mais, que sendo problemas que carecem de solução, não são os únicos, nem talvez sequer os mais importantes para a felicidade dos portugueses.
Um chorrilho de chavões e frases feitas, bem ao jeito “Goebbliano”, muitas vezes sem qualquer conteúdo, ou o mínimo de contacto com a realidade, e por detrás, um profundo vazio, uma ausência de ideias assustadora, reforçada com propostas de saneamento das vozes discordantes e os típicos jogos de poder pela disputa de lugares nas listas. Mais uma vez, a representação do pior que os partidos têm.
Pelo caminho o “culto ao líder” (ou de personalidade) ia-se intensificando. A presença completamente despropositada e a toda a hora de inúmeros seguranças, as deslocações em viaturas topo de gama – que teve como ponto alto, a ponderação do presidente André Ventura se começar a deslocar de helicóptero em território nacional.
O peso dos seminaristas e radicais religiosos (e não só) aumentou considerável e desmedidamente. Tendo o ambiente se tornado pouco recomendável, chegou a hora de sair formalmente. Não nos revemos nem queremos ser conotados com atitudes menos correctas (ainda que sob a forma de suspeitas), violadoras dos princípios básicos da dignidade humana, que são apontadas como ocorrendo agora nos encontros do Partido, nem nas declarações de um destacado membro do Partido Diogo Pacheco de Amorim. Pelo que a nossa saída não só é necessária, como se tornou uma questão de higiene mental e de reserva moral da nossa parte.
Com a aproximação do poder (leia-se, aumento de número de deputados à AR e seus assessores – tudo escolhido a dedo pelo chefe), um deslumbramento completamente irracional tomou conta do partido. Se o mérito e a capacidade dos quadros já não era considerada, a partir desse momento só a fidelidade submissa passou a ter lugar.
Ora, parece interessar, apenas e só, a projecção sem mais do Partido, a nível nacional; os votos que se cifram em subvenções estatais; e os famigerados… donativos que auxiliam a ascender a posições cimeiras nas listas do partido aos diferentes actos eleitorais! Os militantes e membros eleitos a nível local? Meros peões, um meio para atingir um fim. Afinal, um recurso fungível, um instrumento descartável.
O CHEGA revelou-se um partido autocrático populista, que apresenta na AR Propostas de Lei que se sabe de antemão não serem aprovadas, apenas e só para poder capitalizar o voto de descontentamento, isto não é seguramente fazer política de modo diferente, muito menos estar contra o sistema.
Um Partido que não confia nos seus membros eleitos, não pode nem deve esperar deles a recíproca fidúcia. A disciplina partidária no Partido CHEGA confunde-se com militarismo e obediência cega semelhante ao que é exigível a membros de uma seita – sem contestação e sem questionamento. Tal não pode ser objecto senão da nossa repulsa.
É razoável suspeitar que este partido nunca será democrático. Parece não estar inscrito no seu ADN, nem nos seus intentos. Os signatários constataram, aliás, que os procedimentos democráticos não estão no seu projecto actual e nas suas reais intenções.
O pensamento crítico não tem lugar neste partido autocrático e encapsulado em si mesmo. O culto do líder é próprio dos regimes que o CHEGA condena. O rumo tomado é do agrado daqueles que lutam por preencher o vazio da não-pertença, e não daqueles que lutam por causas e princípios e por uma vida melhor.
Mesmo apresentando argumentos válidos, no caso de divergências, a pessoa com “mais poder” puxará sempre dos galões, aproveitando-se de uma duvidosa autoridade moral e política, para tornar claro que ela é que manda e que a sua decisão é final. Aqueles que se atrevam a desafiar, correm o risco de ser alvo de um processo disciplinar ou de uma queixa formal.
Promover a obediência e actuar nas costas dos membros da Assembleia Municipal aqui signatários, pactuando com o PS! Sempre o PS!
As lideranças instaladas nas concelhias, optam por metodologias tirânicas e totalitárias. Quando a democracia interna é extinta, os pensadores livres e o pensamento crítico passam a estar a mais. Os signatários começaram a estar a mais no momento em que foi feita tábua rasa do art.º 4º dos Estatutos do próprio Partido CHEGA, sob o título “Democracia interna”. Pelo que não nos resta outra alternativa do que fazer aquilo que qualquer português de bem deve fazer em consciência, e dizer já chega ao CHEGA!
Em termos políticos fica desde já consagrada a nossa desfiliação enquanto militantes do Partido CHEGA, com a nossa passagem a eleitos independentes, para cumprimento integral do compromisso assumido com aqueles que nos elegeram.
“Quando o poder dirige a sua mira para o bem pessoal de quem o exerce, já degenerou em tirania.”
– Jaime Balmes
Os Signatários:
Henrique Freire (Vereador da CM do Seixal)
Henrique Rodrigues (Deputado municipal da AM do Seixal)
Soraia Rosário (Deputada municipal da AM do Seixal)
Nuno Rodrigues (Membro da AF do Seixal, Arrentela e Aldeia de Paio Pires)
Pedro Costa (Membro da JF da Amora)

PODE QUERER VER TAMBÉM:

5 Autarcas do Seixal abandonam o Chega e passam a independentes! Denunciam “pacto silencioso” com PS e “obediência cega de seita”

André Ventura retirou a confiança política aos vereadores do Seixal e de Sesimbra (que já tinha deixado o Chega em Dezembro)

Ex-vereador do Chega em Sesimbra confessa ter sentido Preconceito e Racismo no partido de André Ventura

Leave a Reply