Para os comentadores do Expresso, André Ventura voltou a perder o Debate para as Legislativas, desta vez pela diferença mínima contra Rui Rio do PSD. Com vitórias para um e para outro e visões muito diferentes dos seus efeitos nos eleitorados.
Clara Ferreira Alves – Rui Rio 7 – André Ventura 5
Rui Rio. Está na posição do guarda-redes antes do penálti. A prerrogativa de Ventura é: não provar nada, não preparar nada. Basta-lhe atacar com palavrões e os propósitos gratuitos do cardápio do populismo. Um chefe político sério não deveria ter de responder a isto com argumentos, e foi nessa posição que Rio se colocou ao defender-se. Rio aliou-se uma vez e agora não tem inteira confiança no futuro, ou seja, não sabe se virá a precisar dele. Ventura irrita-o, o pragmatismo obriga-o a disfarçar. E impede-o de destruir a demagogia autoritária de Ventura montando um ataque cerrado ao dogmatismo da ignorância. Rio disse duas ou três coisas importantes, diluídas na velocidade de Ventura. O ataque é a melhor defesa e Rio não descobriu ainda o modo de ataque. A sua solidez assenta na ausência de hipocrisia. Encurralou Ventura quando disse que nunca seria eleito num sistema com menos deputados.
André Ventura. Debater com Ventura é uma perda de tempo e de paciência exceto para as legiões de indignados e autoproclamados injustiçados. Nenhum tema central será discutido. A economia nunca será discutida porque disso ele sabe nada. Não tem modelo, nem estratégia, nem quadros. Não tem currículo nem preparação. Não tem densidade ou ideologia. O que o remete para a posição do atacante com os lugares-comuns e acessórios do costume, a subsidiodependência, o excesso de políticos, uma justiça para vigilantes e justiceiros, mais a bêtise da castração química, tema espúrio e irrelevante que conseguiu instalar na discussão política. Ventura diz o que acha que a vox populi pensa sem poder dizer que pensa. Na questão dos pensionistas, o demagogo cometeu um erro fatal num país de velhos, dando a Rui Rio o trunfo da noite. Rio foi claro e contundente. Este Rio tem sido escasso e deveria aparecer mais.
Martim Silva – Rui Rio 7 – 3 André Ventura
Rio recusou logo à partida do debate a ideia de ir para o poder com o Chega às cavalitas. Foi claro e assertivo e fica-lhe bem a clarificação e a manutenção da firmeza nos princípios. “Ministros do Chega, nunca”, até porque o partido é instável. “Isto não é o programa quem quer namorar com o agricultor”, respondeu Ventura, numa tentativa de aproximação, ao mesmo tempo que deixava a bicada: “se calhar Rio devia ser líder do PS”. Foi um debate com um político que pode estar perto de ser primeiro-ministro contra um político populista, demagógico e sem consistência. Estas eleições são mesmo entre Rio e Costa
Paulo Baldaia – André Ventura 3 Rui Rio 5
Sem ser capaz de afastar definitivamente o Chega, Rio foi claro a garantir que não haverá coligações com Ventura e a demonstrar que só o voto no PSD pode afastar o PS do poder. Marcou pontos ao responsabilizar o Chega pela responsabilidade de viabilizar um governo de Rio se a maioria for de direita. Rio esteve mal no princípio do debate porque andou a reboque de Ventura. O líder do Chega voltou com toda a demagogia e com os Mercedes à porta, quando se falava de crianças necessitadas. Excelente moderação de Clara de Sousa.
Luís Pedro Nunes – Rio 2 – Ventura 6
Vamos andar nisto. Quem ganhou? Debater com Ventura é como jogar xadrez com um pombo. Não importa o bem que o jogador joga; a determinado momento o pombo vai derrubar as peças, fazer um ‘servicinho’ no tabuleiro e cantar vitória. Rui Rio estava inquieto, tentou ser racional e pedagógico nas respostas, mas isso só o prejudicou. Clara de Sousa resumiu: “Não confia em Ventura”. E tinha motivos. Quando menos esperava, Ventura – que se apresentou sempre como o líder um partido já com ar de quem já tem uns 10% ou mais – definia Rio como alguém que defende, como o Chega, a prisão perpétua, a castração e o fim da malandragem. Rio não tem “killer instinct”. Ventura é um cangaceiro que mata até pelas costas. Foi ouvir a frase final: Rio quer ser vice-primeiro ministro de Costa”. E o debate acabou.
Daniel Oliveira – Rui Rio 2 – André Ventura 5
Este era o debate em que saberíamos se Rio separava as águas. Até porque se sabe que, quando debate com políticos de direita, Ventura modera o desrespeito sistemático pelas regras e às vezes até os deixa falar. Ventura conseguiu três coisas. Que Rio não fechasse peremptoriamente a porta a negociações, desde que o Chega fique fora do governo. Que todos os temas do debate fossem escolhidos por si, pondo o candidato a primeiro-ministro a debater o programa de um partido com um deputado. E que as suas propostas parecessem moderadas, debatíveis, negociáveis. Rio, que caiu em todas as armadilhas, surgiu como uma versão moderada de Ventura. Não fechou a porta à proposta de prisão perpétua mitigada e secundou a conversa da subsidiodependência. Não soubemos o resto. Disse Ventura: “Onde é que está o meu radicalismo? Concorda com tudo”. Um grande vencedor: António Costa, que terá conquistado muitos eleitores em pânico, ao imaginar este homem no governo a lidar com Ventura.
David Dinis – Rui Rio 3 – Ventura 3
Não imaginei ver Rui Rio a discutir com André Ventura a gradação que pode vir a ter em Portugal uma prisão perpétua. E parece-me evidente que isso será um problema para Rio durante os próximos debates, sobretudo com António Costa. Com intenção (de deixar uma porta aberta) ou sem intenção (o ruído permanente de Ventura é difícil em debates), o facto é que os dois saíram do debate mais perto do que entraram. Rio até tinha entrado bem, dizendo claramente que um voto no Chega tornaria mais difícil derrotar António Costa, saiu também melhor, dizendo claramente que não defende qualquer corte nas pensões. Mas deixou a agenda de Ventura dominar o debate, apresentar-se como “radical menos” e criar um ponto de interrogação grande sobre o pós-30 de janeiro. Não foi uma boa entrada. E se acredita que é difícil derrotar Ventura, lembre-se só do que foi o debate dele com Marcelo nas presidenciais. Difícil? Só não querendo, ou estudando pouco.
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