Alexandre Guerreiro, defensor do Chega e de André Ventura, diz que Putin e Lavrov receberam um relatório com a sua sugestão sobre como invadir o Donbass protegido pelo direito internacional. Segundo o Expresso (ver aqui artigo completo) o ex-espião, nega ser um agente de influência, mas influencia, com a sua opinião, para que nem tudo o que vem de Leste seja diabolizado.
O jurista e comentador, que tem ganho notoriedade pelos comentários televisivos sobre a guerra na Ucrânia e por gerar polémica por usar um guião de argumentos próximo dos russos, defendeu-se do artigo do jornal e afirma que “nem sequer apoiei formal ou informalmente” o Chega, no entanto na sua página no Facebook e no Twitter tem vários comentários a defender André Ventura e o Chega.
Alexandre Guerreiro escreveu hoje na sua página que “ficaria honrado por saber que a minha palavra influenciou Putin e Lavrov a tomar decisões soberanas”:
Na passada quarta-feira, recebi o contacto de um jornalista do Expresso, através de chamada no Whatsapp, que queria fazer uma peça sobre mim e sobre aquilo que muitos acham ser a minha “ligação” à Rússia.
Perguntou-me de tudo um pouco, desde a minha juventude, situação familiar, etc. Falei abertamente com ele e fez-me sempre acreditar que a entrevista estava a ser gravada (“sabe que as perguntas vão ser on the record, certo?” ao que eu respondi “sim, claro e ainda bem porque fica como prova”).
Ao mesmo tempo que falávamos, ouvia-o a teclar desenfreadamente no computador, mas julguei que se trataria como complemento ou para registar ideias que iam surgindo ao longo da conversa.
Ontem, saiu a peça no Expresso online.
Contém um conjunto de afirmações (algumas delas graves) que eu nunca fiz e um punhado de outras que são cortadas a meio para sugerir uma ideia que não foi a que transmiti.
Assim que li a peça e perante a gravidade de algum do seu conteúdo, contactei o jornalista e solicitei a conversa que teria ficado gravada: o mesmo responde imediatamente “nunca partilhei gravações com fontes e não será hoje que o vou fazer”.
Acontece que eu não sou uma “fonte”, sou o entrevistado, o lesado, para ser mais correcto.
Quando o confronto com uma série de afirmações que me imputa e frases ou expressões que eu não usei, o mesmo respondeu da seguinte forma “ah meu caro usou mesmo”.
A ironia no tom da resposta fazem perceber imediatamente o ar triunfal de quem sente que conseguiu o efeito pretendido: misturar realidades e polir o discurso do entrevistado para lhe tentar estragar a vida e a carreira.
Tenho a nossa troca de palavras de ontem registada e gravada no telemóvel. Sim, porque, doravante, só falo com jornalistas sobre este tema se for gravado o áudio (por mim) ou se ficar prova escrita do que foi dito.
A conversa com este jornalista durou 51 minutos e 32 segundos, de acordo com o Whatsapp. Como podem ver, saiu uma versão demasiado condensada daquilo que foi a nossa conversa.
Para se ter uma ideia, o jornalista escreve descaradamente, sobre mim, “assume que quer influenciar”. Quando lhe perguntei em que momento da conversa disse isso ou algo que o sugerisse, recebo a magnífica resposta “se vai à televisão quer influenciar ou conhece alguém que vai à televisão e não quer influenciar?”
Pelo meio, tentou associar-me ao partido político Chega, com o qual nunca colaborei, nunca tive qualquer proximidade, nunca participei em qualquer evento, nem sequer apoiei formal ou informalmente.
O mais abjecto disto é que nunca me fez qualquer questão sobre o Chega, provavelmente porque sabia que as respostas estragariam a narrativa.
Quando lhe perguntei a que propósito surge o Chega aqui metido – quando no passado chegaram a dizer-me que fui nomeado por José Sócrates por lhe ser próximo (outra mentira) e agora associam-me ao PCP (mais uma falsidade) – o jornalista responde-me “Marine Le Pen e Matteo Salvini TAMBÉM admiram Putin”.
Perguntei ao jornalista o que achava da ideia de Le Pen admirar Churchill e de Gaulle. Respondeu que era uma observação interessante da minha parte.
Simultaneamente, pega no facto de eu ter em comum com o Chega a defesa da prisão perpétua para reforçar a convicção de que me revejo no partido.
Um único ponto isolado é o suficiente para estabelecer um vínculo. Passa ao lado de um conjunto de outras ideias nas quais não me revejo (dei-lhe o exemplo ontem da castração química à qual me oponho, por exemplo).
Uma única ideia em comum sobre algo completamente inócuo e que até reflecte a posição dominante na União Europeia foi o suficiente para que o jornalista quisesse explorar a ideia de eu poder simpatizar com o Chega, mesmo sem me perguntar sobre isso.
Portanto, houve uma intenção deliberada de juntar um determinado discurso da minha parte (que nunca aconteceu) com um partido que tem sido diabolizado pela sociedade. Só faltou perguntar pelas vacinas COVID-19… mas julgo que também teve receio que a resposta que eu lhe fosse dar estragasse o enredo criado à minha volta (e ia estragar).
Portanto, do nada, um jornalista decide escrever que eu disse que quero influenciar a sociedade e que fui eu a ter a opinião decisiva que fez Putin e Lavrov iniciar a ofensiva à Ucrânia.
Isto seria de rir se não fosse grave para a minha imagem e para minha pessoa! O disparate atinge tais proporções que o jornalista escreve que eu teria dito que “já sabia que isto ia acontecer” e, ao mesmo tempo, “a minha opinião a validar legalmente a invasão” foi remetida para o Kremlin.
Ora, se eu teria dito que já sabia que a decisão já estava tomada, a minha opinião a validar a invasão ia influenciar o quê em concreto?! Eu até ficaria honrado por saber que a minha palavra é que influenciou Putin e Lavrov a tomar decisões soberanas! Não falamos do Palau ou do Vanuatu. Falamos da Rússia! E o Alexandre Guerreiro é que foi decisivo para isto tudo… segundo este jornalista!
Simultaneamente, sou apelidado de “Voz de Moscovo” ainda que tenha dito 300 vezes que nunca fui pago ou aconselhado pela Rússia e que o que comunico é o resultado de investigação feita.
Depois, há um último ponto: eu nunca disse que só os russos é que tiveram interesse pela minha “teoria”. Eu disse que em Portugal, comuniquei à comunicação social o resultado da minha investigação diversas vezes e nunca ninguém mostrou interesse em conhecer o meu estudo.
Aliás, até hoje, não houve ninguém que me pedisse a tese para perceber o que foi investigado e se do ponto de vista científico a mesma teria cobertura factual.
Não. Nem este jornalista quis fazer esse trabalho. Porque estragaria a sua narrativa de me tentar expor e deixar eternamente com o selo “colaboracionista nazi putinista”. Selo que me quis colocar.
Há maior desonestidade do que esta e atentado contra a seriedade do jornalismo? Isto é grave e garanto que esta brincadeira não ficará por aqui. Não vale tudo para vender e ter cliques! Não se tenta arruinar a carreira de terceiros desta maneira.
Que fique a lição de nunca mais falar com jornalistas sem ter provas escritas e que fiquem todos com a certeza de que quem tem uma opinião dissonante da narrativa oficial e dominante, por mais sustentação factual que esta tenha, é um alvo. Fizeram de mim esse alvo porque factualmente não têm como contestar rigorosamente nada do que tenho apresentado publicamente.
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Pedro
Que tal fala-se aqui da não condenação por parte do PCP da invasão Russa da Ucrânia?