Faz hoje 26 anos, que durante a noite de 10 de Junho e a madrugada do dia seguinte, um grupo de skinheads neonazis percorreu mais uma vez as ruas de Lisboa para espancar negros, o que levou mais de dez pessoas ao hospital com ferimentos graves, uma das vítimas não resistiu.
Alcindo Monteiro, tinha 27 anos, era natural de Cabo Verde, português, cumpriu serviço militar em Beja, trabalhava numa oficina de mecânica automóvel, era um cidadão com uma ficha limpa, e faleceu nas primeiras horas do dia 11 de junho de 1995. Foi morto à pancada apenas por ter uma cor de pele diferente, no dia de Portugal, por um grupo de jovens nacionalistas e racistas.
Saíra do Barreiro, onde residia, para ir dançar em Lisboa, mas teve a infelicidade de se ter cruzado com o grupo de skinheads na Rua Garret.
Foram identificados 19 skinheads, entre eles, Mário Machado, o líder dos Skins neonazis em Portugal e da Nova Ordem Social, que segundo o julgamento não participou no ataque a Alcindo, mas tendo sido punido por agressões a outros cinco africanos na mesma noite.
O tribunal deu como provado que os agressores eram racistas, no acórdão pode-se ler:
Os arguidos estão ligados ao movimento de “Skinheads” em Portugal. Este grupo de pessoas tem em comum o culto por determinadas ideias – nacionalismo e racismo – com as quais, de uma forma mais ou menos interiorizada, simpatizam. Exaltam o nacionalismo, o fascismo e o nazismo. Salazar e o seu regime são apontados como um modelo a seguir. A vertente racista está sempre presente. Apelam a superioridade da raça branca considerando a raça negra como raça inferior. Em termos gerais, de acordo com uma política a que chamam “racialismo” não admitem a mistura de raças; são contra a imigração para Portugal de indivíduos de raça negra, nomeadamente os originários das ex-colónias. Defendem a expulsão do território nacional de todos os indivíduos de raça negra e para atingirem esse fim e em nome da “Nação” e da “superioridade da raça branca” acham legítimas todas as agressões contra esse grupo de indivíduos.
No dia 4 de Junho de 1997, a sentença ditou penas de 18 anos de prisão para Nuno Silva, Nuno Monteiro, Hugo Silva, Ricardo Abreu, José Paiva e Tiago Palma. Jaime Hélder, Nélson Silva e João Martins foram condenados em 17 anos e seis meses de prisão, enquanto Alexandre Cordeiro foi sentenciado em 16 anos e seis meses de reclusão.
Foram ainda condenados por outras agressões físicas nesse dia: Mário Machado (quatro anos e três meses), Nuno Cláudio Cerejeira (dois anos e seis meses), Jorge Martins e Nélson Pereira (três anos e nove meses). Jorge Santos e João Homem foram absolvidos.
No dia 28 de fevereiro de 2021, Mário Machado partilhou no seu Twitter uma fotografia, em cima, do almoço no dia em que Alcindo Monteiro foi assassinado e escreveu: “Diretamente do baú e nunca antes partilhada. Almoço de 10 de junho de 1995”.
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