A Associação Académica de Coimbra recebeu hoje a marcha do Chega em Coimbra, com o seu edifício-sede coberto por um pano preto e uma lona onde se veem os rostos das figuras do Estado Novo: Óscar Carmona, Salazar, Marcelo Caetano e Américo Tomás, com a seguinte inscrição: “São estes os portugueses de bem?”.
A marcha do Chega em Coimbra acontece no mesmo dia em se assinala o golpe de estado de 1926, “um movimento militar que deu início a um novo regime político em Portugal que perdurou até 1974”.
A página da Associação Académica de Coimbra partilhou no Facebook a foto em cima e escreveu:
Assinala-se hoje, dia 28 de maio, o momento em que ocorreu o golpe de Estado de 1926, um movimento militar que deu início a um novo regime político em Portugal, que perdurou até 1974. É, sem dúvida, uma data que pertence à história política do nosso país, devendo ser encarada como tal, sem tentativas de a revisitar ou apagar da memória coletiva, mas ainda mais importante, sem tentativas de a engrandecer.
Não esquecemos o que foi a resistência estudantil nas crises académicas de 1962 e 1969 e a opressão deste regime. Não esquecemos as tentativas reiteradas de controlar, proibir e encerrar a Associação Académica de Coimbra, de nomear as suas direções e de restringir a sua liberdade de atuação. Não esquecemos uma universidade amordaçada, obrigada a vigiar ou a afastar os seus mestres por não serem caixa de ressonância da cartilha do Estado. Não esquecemos um Portugal rural a viver na sua própria miséria, sem saúde, sem educação.
O dia 28 de maio não é, por isso, um dia para esquecer. É um dia para nunca esquecer.
Numa nota enviada à imprensa, assinada pelo presidente da instituição, João Assunção, a Associação revela os motivos:
“Seja folclore do líder ou real fervor entusiástico de celebrar o início de um período de ditadura no nosso país, a Associação Académica de Coimbra não poderá deixar de sublinhar o que foi esse período para centenas e centenas de jovens estudantes, inúmeras gerações de academistas afastados por rejeitarem a ordem instalada, presos por exigirem um Estado que respeitasse a liberdade de pensar e agir de cada um, torturados, exilados ou enviados para uma guerra fratricida por quererem garantir um Estado de Direito democrático em Portugal, onde todos os cidadãos fossem iguais perante a lei, sem privilegiados e explorados, sem vencedores e sem vencidos, sem serem perseguidos e condenados por apenas dizerem não”.
A Associação Académica de Coimbra frisa ainda que todos os estudantes que “sofreram ao longo de 48 anos às mãos de um regime ditatorial” exigem à presente direção que não deixe passar a data “como um momento de celebração da instauração de um regime totalmente contrário aos ideais pelos quais esta academia e esta instituição tanto lutaram… Por mais folclores e normalizações, por mais saudosismo de um tempo que felizmente já passou, nós manteremos o inconformismo, manteremos os nossos valores”, afirmam os estudantes, que não esquecem as crises académicas de 1962 e de 1969 e a opressão do regime à resistência estudantil:
“Não esquecemos uma universidade amordaçada, obrigada a vigiar ou a afastar os seus mestres por não serem caixa de ressonância da cartilha do Estado. Não esquecemos um Portugal rural a viver na sua própria miséria, sem saúde, sem educação. Não esquecemos uma guerra que ceifou milhares de vidas, que dizimou povos, que mutilou famílias, que fez findar tantos e tantos sonhos de vida de jovens como nós”.
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